Durante o ano pastoral de
2016-2017, o Sr. Pe. José Alves continuou com o clube de leitura cristã da Paróquia
de Porto de Mós.
Embora a sessão mensal
presencial seja frequentada por um número muito reduzido de leitores, são bem
mais as pessoas que leem os livros do clube, como se comprova pela quantidade de
livros adquiridos em cada mês. Durante este ano, o livro campeão de vendas foi “Memórias
da Ir. Lúcia” tomo I, o que obrigou à emissão de uma segunda remessa.
Seguem-se as pequenas
reflexões que fiz, relativamente aos livros deste ano pastoral.
Reflexão sobre o livro do mês de outubro de 2016
“Eu,
Malala”
Em
termos gerais:
Gostei do livro, mas
principalmente a partir da página 260. Até ao momento do atentado de que foi
alvo, Malala foi-nos apresentando os usos e costumes do povo pastó. A forma
como fala da beleza da sua terra, o vale Swat, antes da ocupação dos talibãs,
faz imaginar uma paisagem de sonho, fora da poluição do mundo moderno. Mas, ao
mesmo tempo transporta-nos para um sem número de tradições que me fazem
agradecer a Deus o facto de viver noutra civilização, onde o nascer mulher é
uma alegria para os pais e para toda a família, onde a mulher tem acesso à
educação tal como os homens. Dá também para vislumbrar uma pequena parte do
imenso sofrimento de todos, homens e mulheres, velhos e crianças, quando um
poder despótico, sem qualquer respeito pelos valores da fé, que dizem professar,
se apodera de um povo. Viver assim, em receio constante de fazer seja o que
for, até brincar, é aflitivo. Também me impressionou a forma como fazem o
recrutamento dos jovens e dos homens adultos para os enviarem em missões
suicidas. Os mandantes não vão, obrigam os outros a ir e, para isso, parece que
lhes fazem uma lavagem ao cérebro. As intrigas políticas que, paralelamente vão
sendo tecidas, de forma a parecer que combatem os talibãs mas, ao mesmo tempo,
a darem-lhes guarida, é também preocupante. Foi este misto de horror, de
preocupação e ao mesmo tempo de admiração por quem, mesmo sabendo os perigos
que corre, como Malala e o seu pai, tenta lutar contra a obscuridade e a
ignorância, a prepotência e o medo, ajudando os que lhe batem à porta, ou os
que recolhem do lixo os desperdícios, para com eles sobreviver, que me fez
gostar do livro. Que Deus proteja toda a humanidade das tiranias, sejam elas de
esquerda, ou de direita, civis, ou religiosas.
Mais em pormenor
Detenho-me nas páginas a
partir da pág. 260.
Foi verdadeiramente
absorvente esta parte do livro. A forma como Malala nos conta tudo o que
passou, prendeu-me até ao fim do livro. Impressionante!
Pág.265 – “Rezem pela Malala
– pediu-lhes o meu pai.”
Ao longo de todo o livro, mas mais nesta
parte, sinto que se toca a alma do viver de pessoas que professam a fé
muçulmana. Não se trata de radicalismos, mas de vida de fé, em Deus.
Pág.267 – “Precipitou-se
para casa e deu a notícia à minha avó, que vivia então connosco. Implorou-lhe
que começasse a rezar de imediato. Acreditamos que Alá ouve com mais atenção os
que já têm cabelos brancos.(…) A minha mãe ficou deveras surpreendida ao ver
toda aquela gente. Sentou-se no tapete das orações e recitou do Alcorão. Disse
às outras mulheres: - Não chorem; rezem!”
Esta é a expressão de alguém
que verdadeiramente confia em Deus e recorre, ao que de mais profundo tem o
coração humano, a oração, para fazer chegar até Deus a dor que lhe vai na alma.
Pág.268 – “Enquanto
observavam o helicóptero, voando por cima delas, a minha mãe tirou o lenço da
cabeça – um gesto extremamente raro numa mulher pasto – ergueu-o ao alto,
segurando-o com ambas as mãos, como se de uma oferenda se tratasse. – Meu Deus,
confio-a ao Vosso cuidado – disse ela aos céus. Não aceitamos a proteção da
polícia; Vós sois o nosso protetor. Ela estava sob a Vossa proteção e Vós
tendes de no-la devolver.”
Este é um verdadeiro ato de
fé em Deus, por parte desta mãe.
Pág.281 – “A minha mãe
continuava a rezar – mal tinha dormido. Faiz Mohammad dissera-lhe que devia
recitar a Sura da Haj, o capítulo do Alcorão sobre a peregrinação, e ela
recitou, vezes sem conta, aqueles doze versículos (58-70) sobre a omnipotência
de Deus. A minha mãe disse ao meu pai que sentia que eu viveria, mas o meu pai
não conseguia vislumbrar como. Quando o coronel Junaid veio inteirar-se do meu
estado, o meu pai voltou a perguntar-lhe: - Ela vai sobreviver? – Acredita em
Deus? – perguntou-lhe o coronel? – Sim, acredito – respondeu o meu pai. O
coronel Junaid apresentava ser um homem de grande profundidade espiritual. O
conselho dele era que apelássemos a Deus, que ele responderia às nossas preces.”
Deus nunca fica indiferente
a um coração de mãe que assim confia n’Ele. É toda uma profundidade de fé que
sustenta o viver desta família e que, num momento trágico, como o do atentado a
Malala, faz sobressair a confiança, a fé em Deus.
O contraste que se verifica
entre a vivência dos povo pastó e a nossa cultura ocidental atual, que já teve
uma verdadeira profundidade espiritual radicada em Deus, durante tantos
séculos, mas que agora passa por uma fase, em que a relação com Deus não é
vivida numa comunhão profunda, nem é essencial para dar sentido à vida, faz-me
desejar que recuperemos a saúde espiritual, que repassa por estas últimas
páginas do livro da Malala. A Europa precisa urgentemente de recuperar a sua
matriz judaico-cristã. Esta é a sua identidade. No meu entender, se o não
fizer, arrisca-se a desparecer, enquanto civilização!
Pág.324 –(…) “No espaço de
um segundo, fez o meu cérebro inchar, roubou a minha audição e cortou o meu
nervo facial. E, depois desse segundo, houve milhões de pessoas a rezar pela
minha vida e médicos talentosos que me devolveram o meu corpo. Eu era uma
rapariga boa. No meu coração albergava apenas o desejo de ajudar as pessoas. E
isso não tinha nada a ver com prémios, ou dinheiro. Sempre pedi a Deus: -Quero
ajudar as pessoas, por favor ajudai-me a fazê-lo.”
Esta é Malala que me fez olhar para o outro lado dos
muçulmanos, muito para além dos radicais que profanam o nome de Deus, semeiam o
terror por onde passam, tiranizando e tentando assassinar todos os que se opõem
às suas ideias, impondo a ignorância e a prepotência sem limites.
Pág.304 – “A minha mãe, por exemplo, diria que uma pessoa assim não pode ser muçulmana.”
Pág.304 – “A minha mãe, por exemplo, diria que uma pessoa assim não pode ser muçulmana.”
Gostei mesmo muito de
perceber, que num mundo que despreza a mulher, esta, quando lhe é dada
oportunidade, demonstra uma força sem limites, como foi o caso de Malala e de sua mãe.
Pág.305 –“Quando o meu pai voltou para junto de minha mãe disse-lhe: -És uma grande mulher. Todo este tempo pensei que eu e Malala éramos os ativistas, mas tu sabes mesmo como fazer uma ação de protesto!
Pág.305 –“Quando o meu pai voltou para junto de minha mãe disse-lhe: -És uma grande mulher. Todo este tempo pensei que eu e Malala éramos os ativistas, mas tu sabes mesmo como fazer uma ação de protesto!
Reflexão sobre o
livro do mês de novembro
“Onde diabo está Deus?” de Richard Leonard
Em termos gerais:
O livro deste mês levou-me a repensar algumas
das ideias que tinha associadas a Deus. Ajudou-me a clarificar e a responder a várias
das interrogações que coloco a/e sobre Deus, no que toca ao sofrimento. Ainda
fiquei com muitas dificuldades em perceber a relação entre Deus e o sofrimento
dos homens, mas há frases, neste livro, que me ajudaram muito.
Gostei da forma como o padre Richard partilhou
a história de vida da sua irmã, mas o que mais apreciei foi o facto de,ao longo
de todo o livro, ele ter exposto tantas das expressões, que, frequentemente,
usamos quando passamos por uma situação de dor e sofrimento profunda e, a todas,
ter rebatido a ideia de lhes associarmos um Deus que castiga o homem enviando-lhe
situações de sofrimento como castigo, ou como forma de redenção.
Finalmente, o livro, para mim, foi muito claro
no que Deus não é, quando se relaciona com o sofrimento,mas insuficiente na explicação
da forma como Deus intervém na nossa vida, em todos os momentos, mas
especialmente em situações como a da irmã do padre Richard.
Passagens que mais me marcaram:
Pág.27 ”Na verdade, nós acreditamos que ver
Jesus atuar é ver Deus atuar, porque “Eu não posso fazer nada sozinho” e “o Pai
e Eu somos um”. Portanto, se Jesus não nos queria magoar, Deus também não.”(...)
Quando ouvimos pessoas a dizer “não julgues”, podemos presumir que estão na
verdade a dizer “não condenes”, mas há uma diferença enorme entre julgar e
condenar. Julgar é avaliar uma situação. Condenar é votar ao Inferno.”
Pág.50 “Quando rezamos, estamos a pedir ao
Deus santo, imutável e cheio de amor que nos mude a nós e que, assim, também
mude o mundo.”
Pág.51”Deus consome-se amando-nos e
salvando-nos a cada momento do dia.Ele não pode fazer mais nada nesse sentido.
Cabe-nos responder a esse dom que não ganhámos nem merecemos, e é isso que faz
a oração.”
(...)
“Ora, talvez pareça estranho que eu afirme
que Deus não pode mudar, ou não muda a natureza, mas pode mudar o coração
humano. Não acredito, porém, que Deus possa mudar um coração que não queira
mudar. A graça edifica sobre a natureza; não a oblitera. Somos seduzidos a
mudar pela graça de Deus, não forçados a fazê-lo.”
Pág.55 “Até mesmo no episódio da anunciação,
Maria não teve de dizer “sim”ao anjo. Apesar da graça da imaculada conceição,
se Maria não tivesse o poder e a liberdade para dizer não, o seu sim não teria
significado. Ela teria sido vítima de Deus, não o modelo que é para nós, como
colaboradora de Deus, mesmo quando esse sim lhe viria a custar tudo. O nosso
sim à graça produz, por vezes, o mesmo efeito.”
Pág.56
“Não existe um projeto celeste propriamente dito para a minha vida. Através da
benção do tempo e do lugar, dos dons da natureza e da graça, eu trabalho com
Deus para realizar da melhor forma possível, mesmo que isso envolva ter de
fazer coisas difíceis, exigentes, que requerem sacrifício. Essa resposta não
provém do medo, nem da compulsão, mas do amor e do desejo.”
Pág.62 “O intuito do espírito mau é
afastar-nos das relações; o intuito do espírito bom é inserir-nos mais profundamente
nas nossas relações. Aquilo a que prestamos atenção confere cor a todas as
outras áreas da nossa vida. Se nos focarmos no negativismo, o negativismo
espalhar-se-á; se nos focarmos na graça, a graça espalha-se-á.”
Pág.63 “Não há nada que nós tenhamos feito,
estejamos a fazer, ou venhamos a fazer que impeça Deus de nos amar. Não há nada
que Deus não possa perdoar e curar, mas temos de começar por tomar consciência
daquilo que somos e daquilo que fizemos. Então será possível fazer alguma
coisa, ou tudo.
Pág.64 “Nada é mais prático do que encontrar
Deus, ou seja apaixonar-se por Ele de uma forma absoluta e definitiva.”...”Apaixona-te,
mantém-te apaixonado, e isso decidirá tudo.”
Pág.76 “A Cruz de Cristo não é um acessório
da moda...Olhando para ela devíamos continuar sem fôlego, não só porque porque
nos mostra até onde Jesus estava disposto a ir para estabelecer o seu reino de
justiça e amor neste mundo, mas também porque exprime o preço a pagar por todos
nós que seguimos o seu Caminho, proclamamos a sua Verdade e vivemos a sua Vida.”
Pág.77 “A minha preocupação não é que Jesus
tenha sofrido e morrido, e que nós também, mas que tipo de imagem de Deus
emerge do facto de nós compreendermos a nossa salvação em termos de transação
comercial de pagar um resgate, ou de um
Deus irado que fica muito satisfeito quando nós lhe “oferecemos” o nosso
sofrimento doença e dor, que Ele próprio nos enviou.”
Pág.79 “Deus criou um mundo que não é nada
perfeito, caso contrário seria o Céu, e onde o sofrimento, a doença e a dor são
realidades. Algumas somos nós que as criamos para nós próprios, mas depois
acusamos Deus.”
Pág.85 “Eu preciso de me manter agarrado ao
facto de que Deus está sempre presente para nós, como companheiro nas
vicissitudes da vida e da morte. É esse o sentido da doutrina cristã da encarnação.
Deus queria tanto ajudar-nos, que, para podermos ser amados e salvos do mal e
de nós próprios, fez-se um connosco na nossa própria carne.”
Pág.97 “Já agora, Deus não precisa de anjos
no Céu. Em teologia, dizemos que Deus é suficiente. Deus não precisa de nada, e
por isso não tem necessidade de nos tirar os nossos filhos, angelicais, ou não.
O que é excitante na fé cristã é o facto de acreditarmos que Deus nos quer. Foi
por isso que a humanidade foi criada.”
Pág.98 “Por conseguinte, quando o nosso corpo
morre, a nossa alma,ou espírito dá início à sua viagem final para casa.”
Pág.100 “A memória, como elemento constitutivo
da minha alma, significa que, quando eu me encontrar com Deus face a face, me
lembrarei de como sou e de como vivi, e que Deus se lembrará de mim. Também é
reconfortante para nós pensar que nos poderemos reunir com aqueles que amamos e
que morreram antes de nós, porque nos lembramos uns dos outros.”
Pág.107 “No entanto, Cristo-como-amigo não é
instrusivo. Ele espera pacientemente um convite para entrar nas nossas vidas a
qualquer nível que queiramos. Jesus encontra-se connosco onde nós estamos,
abraça-nos e aperta-nos contra si quando a realidade se torna dura,
ajudando-nos a encontrar o caminho a seguir, mesmo naquele último dia em que
encontrarmos o caminho para casa.”
Breve reflexão sobre o livro de dezembro,
“A
mãe de Calcutá” Madre Teresa, de Roberto Allegri
Em termos gerais
Gostei muito do livro, quer pela forma como está escrito, quer pela
seleção, que o autor fez, dos episódios que apresenta no livro. Allegri vai-nos
revelando a formação da personalidade da jovem Agnes, bem como o percurso
espiritual e humano que vai percorrendo, desde criança até à implantação das
Irmãs da Caridade. Ao longo do livro, consegue-se perceber claramente como
foram decisivas, tanto a influência do exemplo familiar, como a importância do
testemunho missionário, no crescimento individual e coletivo de Agnes. Quanto
às opções tomadas por Agnes, enquanto criança e jovem, ou como irmã Teresa, há
uma entrega total a Deus, com um denominador comum que impressiona, o amor
pelos mais pobres. É o amor a Deus e aos mais pobres dos pobres que
ressalta como o que move Madre Teresa em todas as “batalhas” que trava. Outra
das coisas que sobressai em Madre Teresa é o facto de ela ver Jesus em cada uma
das pessoas que cuidava, de conseguir olhar a pessoa para além do seu aspeto
físico e tocar Jesus que o habitava. Era toda amor para com eles.
Também realço o prefácio escrito por um cantor de quem gostei muito,
noutros tempos, Al Bano Carrisi, pela proximidade afetiva, com todas pessoas,
que nos revela de Madre Teresa.
Passagens que mais me marcaram:
Pág.8 –“ Estando perto da Madre, podia observá-las bem. Tinha o Sol nas
costas e parecia ser ela a irradiar luz. Tinha a sensação de que não era uma pessoa
sozinha, mas uma multidão inteira. Emanava dela a energia de uma multidão.
Recordo que era pequena, minúscula, encurvada. Trazia vestido o seu habitual
hábito branco bordado de azul, de feitio indiano, é uma camisola de lã. Tinha o
terço do Rosário à cintura. E calçava umas simples sandálias gastas e
deformadas. O seu rosto era incrível: escuro, fincado de rugas. Fazia-me vir à
mente a cortiça das oliveiras, ou então, a terra de Salento, gritada pelo Sol.
Apesar de ser idosa – já tinha 76anos – irradiava uma tal força, que parecia
mais jovem do que todos nós. Os seus olhos eram profundos e dulcíssimos.
Aproximou-se de mim e abraçou-me com ternura. Nunca mais esqueci aquele
abraço.”
Pág42 – “cada um de nós tem um papel preciso. O problema é que nem sempre
conseguimos entender qual é. Deus é simples, fala de modo claro. É o coração
dos homens que, muitas vezes, é complicado e não compreende. Então, devemos
pedir a Deus que repita. “E como se faz?”, pergunta Agnes. “Rezando. Fala
com Deus, diz-lhe que grite, pois não O estás a ouvir bem. Se te sentires feliz
com a ideia de que Ele te está a chamar para servir o próximo, bom, essa será a
prova da tua vocação.”
Pág.46 e 47 – “Dia após dia, ano após ano, Agnes cresce, torna-se
mulher, em harmonia com o seu mundo. É desembaraçada, escreve poesia, toca
piano, é convidada para as festas, cortejado pelos rapazes da sua idade. Ajuda
a mãe em casa, continua a frequentar os bairros pobres, a gente quer-lhe bem,
invoca sobre ela as bênçãos do Céu. Ela sorri, gentil com todos, mas, no
íntimo, está destroçada. Por mais água que possa lançar ao fogo, as chamas da
Índia continuam a mordê-la. Nas suas cartas , o padre Anthony escreveu sobre
crianças indianas doentes e desnutridas, que podem ser erguidas com uma mão, e
no coração se Agnes abriram-se abismos. Desde menina ela já era uma mãe. Mãe
dos pobres de quem cuidava, a quem levava as prendas de Natal e o bom humor,
com os seus modos gentis. O pensamento das crianças indianas inchadas de fome,
a disputar a comida com os cães, pelas ruas, fá-la tremer.”
Pág.60 –“ Naquele momento , diante dos olhos de Agnes desfilou a sua
vida em Skopje. Recordou as visitas aos pobres, juntamente com a mãe. Tem a
certeza de que aqueles dias foram um treino, um constituir a base sólida para algo
maior e mais comprometido. Sente-se assombrada, dando-se conta de que tudo se
desenrolou segundo uma ordem precisa de tempos e predisposições de ânimo: a
escola da caridade da mãe Drane; a consciência da dor humana experimentada com
a morte do pai; os dias passados a trabalhar para sobreviver, experimentando,
em primeira mão, as privações; o descobrir a dedicação dos missionários e o
nascer do desejo de ser como eles; as cartas do padre Anthony, que deram rosto
ao seu doar-se. Finalmente a decisão de se tornar freira. Todos são degraus de
uma escada que leva ao alto, rumo à luz que Agnes sente ter dentro.”
Pág.76 – “Talvez não tenha compreendido bem o que é que Jesus quer de
mim, diz, olhando para o revérbero dos incêndios que se extinguem ao longe. Talvez
Ele queira alguma outra coisa de mim. Peço-te, Senhor, fala mais forte.
Grita-me a tua vontade, de forma que eu a possa cumprir.”
Pág. 89 – “Quero irmãs indianas, que sejam missionárias da
caridade, que sejam o meu fogo de amor entre os pobres, entre aqueles que
morrem na rua. Essas irmãs trarão os pobres a mim, e oferecerão as suas vidas
pelas almas.”
Pág.95 – “Nada foi inútil. Tudo a fez amadurecer. Como uma semente que
conheceu a chuva e o granizo, o vento e a canícula de verão, os insetos e as
noites de gelo. Mas que, no final, se tornou uma espiga de reflexos luzentes,
alta e forte.”
Pág.103 – “Mas estes são tempos difíceis. A Índia é um país difícil. E
aquilo que pedes é desconcertante. No meu entender, tens de dar tempo, para
refletires melhor, para levares ainda mais luz à tua alma. Se aquilo que
propões é verdadeiramente um desígnio de Deus, então verás que se
realizará. Mas, de momento, a minha resposta é não!”
Pág.109 – “Jesus, aqui estou. Eis-me à tua disposição. Procuraste-me, e
eu vim. Agora, não tenho mais nada: como aqueles pobres nas ruas, de quem tanto
gostas. E estou completamente nas tuas mãos. Não esqueças a tua promessa,
disseste que estarias sempre a meu lado. Porque, agora, não sei por onde
começar.”
Pág.112 – “Teresa está onde, desde sempre, quis estar. É uma mãe de pele
clara, de hábito branco, empoeirado, de mangas longas que enrola à volta de
braços franzinos, a fim de ter as mãos livres para trabalhar. Como a mais
extremosa das mães, toca, levanta, limpa, lava, acaricia, acompanha, pega na
mão de quem não tem nada no mundo.”
Breve reflexão sobre o livro do mês de janeiro
de 2017 “Óscar Romero” – O amor deve triunfar – de Kevin Clarke
Em
termos gerais:
Gostei
do livro, porque revela a transformação de um ser humano, que sendo sempre fiel
ao seu amor a Deus e à Igreja, a partir do momento em que é assassinado o seu
amigo Rutílio Grande, deixa de ser conivente com o poder instituído, com os
proprietários, as elites militares e judiciais e passa a ser pastor no meio dos
pobres, dos perseguidos e dos injustiçados.
Sempre
entendi que a teologia da libertação era mais política do que teológica, pelo
que percebi a atitude que o arcebispo, Óscar Romero, tinha contra os seus
defensores. Continuo, mesmo depois de ler o livro, a não partilhar muitas das teorias
defendidas por este movimento, mas quando as situações se agudizam como
aconteceu em El Salvador, é compreensível que tenha sido um dos recursos a
utilizar. O princípio geral, para mim, é válido: a defesa dos pobres e dos
injustiçados, mas as formas de o fazer já são discutíveis à luz da fé católica.
Mas deixo essa discussão para os especialistas.
Não
conhecia o sofrimento do povo salvadorenho. É impressionante a forma como uma
minoria consegue tornar-se dona de tudo e de todos, pela força, aterrorizando
todo um povo, que é tratado como escravo
na sua própria terra.
Atendendo
a tudo que escrevi anteriormente, dividi o livro em duas partes: uma antes do
assassinato do padre Rutílio Grande e a
outra depois da sua morte. Até à morte do padre Rutílio, o arcebispo Óscar
Romero vai pactuando, umas vezes mais passivamente, outras ativamente com o
poder político, com os grandes proprietários, com os militares, isto é, com as
elites de El Salvador. É discutível, o que vou dizer, mas até parece que, se
assim não fosse, ele não teria chegado a arcebispo. Mas o mais marcante desta
parte da vida do arcebispo Óscar é o seu profundo amor a Deus e o seu apoio na
oração. Nunca deixou de ser fiel ao que era essencial.
Na
segunda parte D.Óscar sofreu uma imensa transformação. O seu coração deixou-se
envolver pelo profundo sofrimento que os seu olhos testemunharam e passou para
o lado dos pobres. Era impossível ficar indiferente perante tanta dor e
injustiça. Assim, vemos renascer um lutador pela justiça, pela reposição da
dignidade humana, pela defesa dos mais elementares direitos de qualquer pessoa,
entre os quais o direito à vida e em condições de segurança. O que retive, como
mais marcante nesta fase, é a sua incansável atenção e cuidado para com todos. Tinha
sempre tempo (fosse qual fosse a hora do dia, ou da noite) para atender quem
solicitava explicitamente o seu apoio, ou quando intuía que dele necessitava.
Também nesta fase o amor a Deus e à Igreja, são evidentes, só que agora há a
acrescentar ainda o amor aos mais pobres e aos injustiçados. O amor aos pobres,
nesta fase, é mesmo o traço dominante.
Mais
em pormenor:
Pág.94
- “Grande fora, durante vários anos, um espinho na carne dos agricultores
locais. Em 1972, trouxera o conceito de comunidades de base para Aguilares. A
experiência foi eletrizante para aqueles camponeses indígenas e mestiços.
Descrevê-los como pobres teria sido pouco. Se tinham alguma terra, era o lote
mais rochoso, ou mais elevado, ou em estado mais adiantado de erosão, em plena
encosta da montanha. Grande e os seus colegas sacerdotes reabilitaram essas
pessoas, através de gestos tão simples como pedir a sua opinião acerca das sua
próprias vidas; trouxeram-lhes Bíblias, ensinaram-nas a ler e perguntaram-lhes
se acreditavam de facto que era vontade divina, do seu amoroso Pai do Céu, que
eles chafurdassem na lama da sua miséria e desesperança total. Seria assim que
Deus queria que os seus filhos vivessem?
Quando
aqueles camponeses aceitaram o óbvio, que não era vontade de Deus que eles
sofressem tanto, que eles tinham uma dignidade inata, como povo de Deus,
começaram a compreender que lhes cabia, a eles, fazer alguma coisa para mudar a
situação, para ajudar Deus a construir o seu Reino de paz e justiça sobre a
terra. Formaram comités agrícolas e fizeram manifestações a favor da reforma
agrária e de um melhor tratamento por parte dos senhores das colheitas.
Foi
esta ameaça, foi esta «violência» que desencadeou a ira feroz da elite
detentora de terras, através da Guarda Nacional, que era o seu instrumento. Era
este o «comunismo», que os jesuítas e os sacerdotes estrangeiros do Terceiro
Mundo disseminavam entre os bons camponeses de El Salvador.”
Pág.95
– “Naquela noite, enquanto pensava no povo de Aguilares, nos corpos inertes de
Grande , de um velhote e de um rapaz camponês, crucificados com espingardas de
elevada potência, Romero talvez tenha compreendido, de uma forma visceral, o
novo ensinamento do Concílio Vaticano II e de Medellín com que, até então, se
debatera: o que significav.a fazer uma opção preferencial pelos pobres e
unir-se ao povo de Deus na sua dor e sofrimento, como Rutílio fizera, mas até à
expressão última de identidade e rendição, oferecendo a sua vida terrena.
«Naquela noite, a vontade de Deus – recordou Sobrino – deve ter parecido muito
diferente ao arcebispo Romero, na presença dqueles três corpos e de centenas de
camponeses que o fitavam, interrogando-se sobre o que ele iria fazer depois do
sucedido».”
Pág.125
– “Romero começava a ver os pobres como os principais instrutores da fé
contemporânea, tanto pelo testemunho das condições da sociedade refletidas na
luta diária, como pela sabedoria das Escrituras que partilhavam pessoalmente.
E, através dessa sabedoria, começava a entender a necessidade de a Igreja se
empenhar na sua época, não se ausentar dos bastidores da história,
refugiando-se em considerações espirituais piedosamente sussurradas.
Obviamente, diria ele, a Igreja não tem outra alternativa senão dar a cara por
aqueles que estão a ser oprimidos e que precisam de ser libertados dos seus
opressores. … E isso significava
partilhar os riscos que corriam os indefesos”
Pág.129
– “É nesta encruzilhada, frequentemente referida pelo arcebispo, que a sua
visão de libertação e a de alguns adeptos da emergente teologia da libertação talvez
sigam caminhos diferentes. Romero não estava interessado na promoção de um
choque de classes e de estratos sociais, na reordenação violenta da má
distribuição de riquezas, ou de crimes
relacionados com a propriedade hereditária. Estava preocupado em salvar os
corpos e as almas dos seus irmãos das comunidades mais pobres e mais
vulneráveis, mas também das classes dirigentes, intocadas pela violência da
pobreza e voluntariamente cegas, quanto à sua própria cumplicidade em relação a
ela. As sua denúncias e súplicas não tinham por objetivo dividir e castigar,
mas restaurar a fé – e a comunidade dos fiéis -, oferecendo esperança aos
oprimidos e chamando e acolhendo os cristãos extraviados na comunidade do povo
de Deus.”
Breve reflexão sobre o livro do mês de
fevereiro de 2017 “Viver Deus na alegria” – Claire de Castelbajac
Em termos gerais:
Adorei
o livro, ou melhor, adorei a história de vida que o livro nos traz. Não foi
tanto a forma como está escrito, nem tão pouco a seleção que foi feita do que
devia constar nesta edição, mas gostei imenso de ir descobrindo esta alma de
eleição, através das cartas, que nos vão revelando a profundidade de entrega
desta jovem, ao longo do pouco tempo que viveu neste mundo.
Realço,
tal como o fez o Pe. Joseph de Sainte Marie, na “Apresentação” do livro, a
importância, não só dos diversos dons com que Claire foi agraciada por Deus,
mas, sobretudo, da educação cristã, desde bebé, que recebeu no seio da sua
família, com especial relevância para a intervenção dos seus pais.
É
também de assinalar que não se tratou de uma vida fácil, pois, para além do seu
próprio sofrimento, com internamento hospitalar por várias vezes, acompanhou o
seu pai e a sua mãe quando estes, por sua vez, foram hospitalizados.
Outro
marco importante do seu crescimento, no amor e entrega a Deus, é a fase em que foi estudar para Roma
em que, passa por várias experiências, entre as quais uma crise espiritual, da
qual acaba por sair muito mais “madura”.
Também
é de referir a importância da sua peregrinação à Terra Santa, como o culminar
de uma caminhada em direção à descoberta do verdadeiro Amor, terminando ela por
escrever, na página 149: “…uma peregrinação extenuante e transtornante, no
sentido próprio do termo. Em três semanas, a minha vida mudou completamente de
ótica: além da minha familiaridade com a Santíssima Virgem, descubro o Amor de Deus,
imenso, surpreendente e tão simples.”
A
seguir acompanhamo-la até Assis, no
restauro da capela de S.Martinho, de Simone Martini e dá para perceber quão
sensível e apaixonada pela arte, pelo “belo”(…) “maravilhosos frescos, aliás
muito, muito belos, os mais belos das duas basílicas e, sobretudo, cheios de
vida espiritual que não pode deixar de nos tocar. Incrível como, seis séculos e
meio depois, este tipo pode fazer passar para nós a sua alma, enquanto o
restauramos.”
Por
fim, o que ressalta como denominador comum, que perpassa por toda a vida de
Claire, é a alegria, que vive e espalha à sua volta, na qual envolve todos os
que com ela convivem. É uma alegria missionária, através da qual procura
cativar todos para Deus.
Mais
em pormenor:
Pág.
58 – “… a vida é bela, o tempo também, e também o desenho a aguarela que fiz: a
minha primeira aguarela!
- sinto-me livre, ainda que no convento,
e cheia de dons em potência, que procuro desenvolver convosco (com a vossa
ajuda).
- um trabalhador canta e é feliz por
viver. Eu também.
- um raio de luz brinca por cima dos
tijolos da lareira.
É curioso, quantos motivos de felicidade
se podem encontrar se refletirmos! A vida não é senão felicidade! São os homens
que fazem a infelicidade. Se toda a gente o pudesse compreender! (setembro de
1969 – 16 anos).
Pág.
59 – “ (…) Dizes estar triste. Ó! Porquê? Porquê, se a vida, globalmente, é tão
bela e, nas pequenas coisas, a vida pode ser tão bela!(…) Nunca desanimes! É a
pior das asneiras. Assim que começares a fraquejar, chama depressa a Virgem
Santíssima e o teu Anjo da Guarda, e está segura que te ajudarão. São os
melhores amigos, e tão poderosos! Depois, agradece-lhes. O remédio é excelente.
Foi a minha Mãe que me ensinou isto na infância …”
Pág.75/76
– “(…) não tendo podido ir à Missa da manhã, por me ter levantado tarde, venho
agora de lá: é uma menos um quarto. Estou cheia de Deus, não podes fazer ideia
até que ponto; ao voltar à motorizada, rezei intensamente para que participes
comigo desta plenitude. Não te é possível materialmente? Mas não achas
extraordinário poder fazê-lo a mil quilómetros de distância? O que me faz
pensar em Van Gogh, que se maravilhava de «tudo» sob o sol: seja um, mil ou dez
milhões, temos sempre a mesma possibilidade de calor ao sol, e um homem sozinho
não teria mais calor do que a multidão. O sol é para todos e para cada um e
reparte-se sem se decompor.”
Pág.169
– “Esta apoteose de alegria, esta vitalidade, manifesta-as a todo o instante.
Irradia felicidade. Repete incansavelmente: «Sou feliz! Amo tanto a vida! Mas
percebei como eu sou feliz! Como Deus é bom!». Esta felicidade profunda não se
desmente com o passar dos dias. É verdade que se conhecia uma Claire de um
natural alegre, que ria às gargalhadas, levando as coisas com humor e sã
filosofia, feliz de viver e proclamando-o… Mas esta Claire que regressou, esta
Claire tinha mudado: era outra. Estava literalmente transfigurada. E esta
alegria não enganava. Era bem a alegria dos filhos de Deus, que tudo entregam
nas suas mãos, que Lhe consagram uma confiança absoluta, que já nada temem, de
tanto amados que se sentem e de tanto que amam. Provada e purificada, a sua fé
triunfava.”
Breve reflexão sobre o livro do mês de março de
2017 “Quebrar as cadeias” – o combate pela dignidade das mulheres – de Irmã
Eugenia Bonetti com Anna Pozzi
Em termos gerais:
Quem vive, ou já viveu, numa cidade grande
deu-se conta da existência aí de ruas, ou locais, conhecidos pela prática da
prostituição, mas sinceramente, não tinha a noção da dimensão avassaladora
deste fenómeno. É impressionante o número de mulheres vítimas deste “comércio
ignóbil”!
Depois de ler o livro deste mês, fiquei com um
sentimento de tristeza profunda, por um lado, pela situação trágica em que
vivem milhões de mulheres (crianças, jovens e adultas), pelo mundo fora, por
outro lado, pelo “adormecimento” consciente, ou inconsciente, da maioria das
autoridades, dos diferentes países, face a esta tragédia humana, que se arrasta
há tantos anos, sem se vislumbrar uma vontade real de lhe pôr um fim.
Apesar de tudo, foi muito bom verificar que há,
por parte da Igreja, uma ajuda real e em rede, em certas cidades desta bendita
Europa, na ajuda humana, médica e social a muitas das mulheres que vivem na
prostituição e àquelas que manifestam vontade de sair deste círculo vicioso, em
que foram obrigadas a cair, pelas razões
mais variadas.
Mais em pormenor:
Pág.
50 – “Os clientes – juntamente com os traficantes e as vítimas – são
figuras-chave no mundo da prostituição: se há muitas prostitutas nas nossas
ruas, obrigadas a vender o próprio corpo, é porque existe uma grande procura (e
a mulher pobre, indefesa e sem documentos, tornou-se a resposta a esta
procura). São eles que mantêm e promovem o mercado; um mercado
surpreendentemente vasto: em Itália, o tráfico ilícito de mulheres e menores
para fins de prostituição satisfaz a procura de 9 a 10 milhões de clientes por
mês.” (dados de 2010)
Comento
eu: se pensarmos bem, é o equivalente, em número, à totalidade da população
portuguesa!!! Dá que pensar…
Pág.53
– “Algumas investigações documentam que o cliente é um homem medianamente abastado,
de idade variável entre os 18 e os 70 anos (e mais), com uma educação média,
muitas vezes com um bom trabalho, e que até se confessa cristão. Além disso 70%
têm mulher e filhos, ou companheira.”
Pág.55
– Desde os alvores da história, a ordem da criação tem sido quebrada, porque os
homens fizeram mau uso da sua liberdade e fizeram escolhas erradas. O poder e o
bem-estar contribuíram para a difusão da corrupção e da injustiça. Desde então,
os seres humanos entraram em conflito consigo mesmos, com os outros e até com a
natureza; fizeram a experiência da luta entre o bem e o mal, entre a vida e a
morte, entre o amor e o ódio. …”Por
isso, apareceram os profetas: para sugerirem à humanidade novas visões e
despertar a esperança no futuro.” … “o Grande Jubileu de 2000,…” … “incitou-nos
a firmar uma nova «aliança com os pobres». E esta é a visão profética de que
hoje temos necessidade. “Várias congregações já fizeram a sua com determinação
e coragem.”
Pág.100
– Deveria ser dada uma atenção especial ao mundo da «procura». Os nossos homens
e os nossos rapazes deviam tomar consciência das suas responsabilidades, quando
procuram sexo pago com mulheres traficadas (muitas delas menores). Com a sua
escolha apoiam e alimentam esse enorme mercado e tornam-se cúmplices de uma
violação do direitos humanos.
Breve reflexão sobre o livro do mês de abril de
2017 “Aprender a rezar para aprender a amar” de Jacques Philippe
Em termos gerais:
O livro do mês de abril é completamente
diferente de todos os que nos foram propostos, até ao momento, no clube de leitura
cristã. É um livro que desperta para a necessidade de rezar e fazê-lo sempre,
com ou sem disposição. Apresenta também muitos modos diferentes de o fazer. Alerta,
também, para o facto de não haver receitas e cada pessoa ter de procurar, de
forma dinâmica ( nunca está terminado), o seu jeito próprio de orar.
Concluindo, rezar é uma necessidade de todo o
ser humano, mas há tantas maneiras diferentes de o fazer, que, às vezes,
torna-se difícil encontrar o jeito mais adequado (a si próprio) para entrar em
oração.
Este livro apresenta primeiro uma série de
considerações acerca da oração e depois enumera diferentes formas concretas de
rezar, dentro dos vários tipos de oração. Não é um manual de oração, mas tem
conselhos práticos para aquele(a) que quer rezar e não o consegue. Experimentar
não custa, o pior que pode acontecer é não resultar! Com tanta variedade,
alguma se há de ajustar à nossa forma de ser e estar!
Quanto a uma vida de oração, ainda é mais
complicado. Entreguemo-nos a Deus e confiemos n’Ele. Afinal, diz o autor deste
livro, a oração é um ato de fé, de esperança e de caridade, isto é, de
encontrar, acolher e estar em Deus.
Pormenorizando:
Pág.16 – O fundamento mais sólido da vida de
oração não é propriamente o que nós procuramos, a iniciativa pessoal e o nosso
desejo ( que têm um preço, mas podem às vezes ser parcos), mas o apelo de Deus:
«Rezai sempre!» (Lc18,1), «Ficai atentos e rezai continuamente!» (Lc 21,36),
«Rezai incessantemente!» (Ef 6,18)… O motor da vida de oração é a fé, enquanto
obediência confiante àquilo que Deus nos propõe.
Pág.21 – Rezar é passar gratuitamente tempo com
Deus, por causa da alegria de estarmos juntos. É amar, porque gastar o nosso
tempo é uma forma de dar a vida. O amor não consiste em fazer alguma coisa pelo
outro, mas em estar presente para ele. A oração educa-nos a estar sempre
presentes para deus, numa simples atenção amorosa.
A maravilha é que, ao aprendermos a estar
presentes somente para Deus, acabamos por aprender a estar sempre presentes
para os outros. Junto das pessoas que tiveram uma longa vida de oração
percebe-se a qualidade de atenção, de presença, de escuta e de disponibilidade
de que normalmente as pessoas ocupadas durante toda a sua vida em atividades
não são capazes.
Pág.24 – Note-se bem o seguinte: quando
entramos em comunhão com Deus, a oração faz-nos participantes da criatividade
divina. A contemplação alimenta as nossas faculdades criadoras e a nossa
inventiva, particularmente no domínio da beleza.
Pág.25 – A oração induz-nos gradualmente num
verdadeiro conhecimento de Deus…A oração permite-nos passar das nossas ideias
sobre Deus, a uma experiência de Deus. O que é muito diferente! No livro de
Job, encontra-se esta bela expressão: « Eu conhecia-Te só por ouvir. Agora,
porém, os meus olhos veem-Te» (Jb 42,5)
Pág.29 – A oração e o encontro com Deus
fazem-me descobrir o amor único que Deus tem por mim. Sentir-se amado de um
modo único é uma aspiração profunda de todo o homem ( e muito mais de toda a
mulher!)
Pág.42 – A caridade é o fruto e o critério
último de toda a vida de oração. «SE não tivesse amor, nada seria!» (1Cor
13,1).
Pág.53
– Há momentos na nossa vida de oração em que somos muito pobres. Apesar da
nossa boa vontade e dos nosso esforços,
sentimo-nos áridos, frios, vazios, não entendemos nada, nem temos luz alguma…
Se isto lhe acontecer, caro leitor, deverá lembrar-se do que já lhe disse:
pouco importa o que sente ou não, o que compreende, ou não. Se a sensibilidade
e a inteligência não o levarem a Deus, a fé levá-lo-á de certeza. Se fizer aí
uma ato de fé, humilde e sincero, pode ter a certeza que a partir daí se
colocou em contacto com Deus de maneira absolutamente certa. A fé, e apenas
ela, estabelece o contacto real com a presença viva de Deus.
Pág.67
– A oração é uma ato da caridade de Deus. Rezar é acolher com confiança a
caridade de Deus. Rezar não é, principalmente, fazer algo para Deus, mas é
sobretudo receber o Seu amor, deixar-se amar por Ele.
Pág.75
– Rezar é acolher uma presença. Deus torna-se presente: na criação, na Sua
Palavra transmitida através da Escritura, no mistério de Cristo, na Eucaristia,
quando habita nos nossos corações, etc.
Breve reflexão sobre o livro do mês de maio
Tinha lido este livro há já muitos anos, não
consigo precisar quantos, mas relê-lo no centenário das Aparições e, em
especial, durante o mês de Maio, em que o papa Francisco veio a Fátima canonizar
Francisco e Jacinta, teve outro significado para mim. Em relação ao estilo de
escrita da Irmã Lúcia, voltei a sentir que ela tem um forma simples de contar
os factos, mas com pormenores muito cuidados. No entanto o que mais apreciei
foi a forma como nos “prende” aos acontecimentos que vai narrando. Envolve-nos
no que nos conta e leva-nos a sentir que tudo o que passou na Cova da Iria é
mesmo real.
No que diz respeito ao que nos conta, houve
alguns aspetos, entre outros, que me impressionaram mais e que suscitam as
seguintes considerações:
- Os pastorinhas eram
crianças perfeitamente normais, enquadradas nos usos e costumes do seu tempo e
da sua região – Gostavam de brincar, de dançar, de tocar, abreviavam a forma de
rezar o terço para terem mais tempo para brincar.
- As crianças foram
criadas num ambiente familiar profundamente cristão.
- As famílias da
região viviam com dificuldades económicas, mas mantinham como valores
fundamentais na educação, a partilha, a entreajuda, a solidariedade.
- As autoridades
políticas, em geral, eram profundamente anticlericais.
- A Europa está
mergulhada na primeira grande guerra e Portugal, a partir do momento em que
também entra, revela todas as fragilidades do seu sistema económico-financeiro,
desencadeando o desmantelamento do tecido produtivo, o acentuar de clivagens
sociais e a escassez de bens essenciais. A acrescentar a tudo isto Portugal tem que enviar homens para o teatro das
operações.
- São as pessoas, o
povo de Deus, que impõe Fátima à Igreja.
Após as aparições os pastorinhas vão mudando completamente,
parece que crescem imenso interiormente, principalmente a Jacinta e o
Francisco. Não só aprendem a rezar de forma diferente, como vão crescendo na
comunhão com Deus e Nossa Senhora, o Francisco de uma forma mais íntima, mais
individual, a Jacinta numa dimensão mais
ecuménica, alargando a sua oração aos outros, sobretudo aos pecadores. Como que
se completam os dois na sua oração, se o Francisco é mais contemplativo, a
Jacinta é mais missionária.
Concluo, com o que mais me impressionou no livro, que foi a
profundidade da adesão a Deus num coração de criança. Perante o testemunho que
a Irmã Lúcia apresenta, da vida dos seus primos, vamo-nos apercebendo do quanto eles vão crescendo na sua intimidade com Deus e na entrega das suas vidas pela
salvação dos pecadores.
São Francisco e Santa Jacinta rogai por nós!
Breve reflexão
sobre o livro do mês de junho
“Memórias da Ir.Lúcia" II
Ao ler o livro deste mês, tomo II das
“Memórias da Ir.Lúcia”, senti que a forma de cativar e prender o leitor é muito
semelhante à do tomo I, mas o encadear e a organização da narrativa, o recurso frequente
a citações quer bíblicas, quer dos documentos da Igreja, revelam uma Ir.Lúcia
diferente, mais cuidada no estilo da escrita, na organização e construção das
ideias do texto, na explicação dos acontecimentos, ligando-os a citações
bíblicas, ou de documentos da Igreja.
Neste tomo II, não só ficamos a conhecer,
muito melhor, a família da Irmã Lúcia, mas também muitas das situações que a
pastorinha Lúcia viveu, após a morte dos seus primos Francisco e Jacinta. Há
factos e pormenores, que desconhecia totalmente, mas que me ajudaram a perceber
melhor uma parte do percurso de Lúcia, após as aparições.
De tudo o que li, fiquei com a sensação de
que a Igreja procurou resguardar a pastorinha Lúcia da curiosidade e da
apropriação dos populares, que acorriam à Cova da Iria e, simultaneamente, foi
dando tempo a que a veracidade das Aparições fosse testada.
Não sei explicar bem porquê, mas deste livro,
que gostei de ler, retenho a figura, a estrutura moral e maternal da mãe Rosa. Que
grande mulher! De tudo o que a Ir. Lúcia conta de sua mãe, impressiona-me principalmente
o amor: aos pobres e necessitados; a todas as pessoas (vizinhas, ou não) que
batiam à sua porta a pedir ajuda; à família; à verdade; à Igreja. Foi com o seu exemplo que transmitiu, quer a
Lúcia, quer aos irmãos, os valores morais de que a Ir. Lúcia nos dá conta neste
livro. Foi esta mãe que ajudou a pequena Lúcia a crescer no amor a Deus e ao
próximo e lhe deu a possibilidade de ir cimentando a sua educação em valores
morais e cristãos, que lhe permitiram continuar a sua missão na terra,
independentemente dos “ventos e tempestades” porque passou.
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