Os livros de 2016-2017


Durante o ano pastoral de 2016-2017, o Sr. Pe. José Alves continuou com o clube de leitura cristã da Paróquia de Porto de Mós.
Embora a sessão mensal presencial seja frequentada por um número muito reduzido de leitores, são bem mais as pessoas que leem os livros do clube, como se comprova pela quantidade de livros adquiridos em cada mês. Durante este ano, o livro campeão de vendas foi “Memórias da Ir. Lúcia” tomo I, o que obrigou à emissão de uma segunda remessa.


Seguem-se as pequenas reflexões que fiz, relativamente aos livros deste ano pastoral.

Reflexão sobre o livro do mês de outubro de 2016 
“Eu, Malala”


Em termos gerais:

Gostei do livro, mas principalmente a partir da página 260. Até ao momento do atentado de que foi alvo, Malala foi-nos apresentando os usos e costumes do povo pastó. A forma como fala da beleza da sua terra, o vale Swat, antes da ocupação dos talibãs, faz imaginar uma paisagem de sonho, fora da poluição do mundo moderno. Mas, ao mesmo tempo transporta-nos para um sem número de tradições que me fazem agradecer a Deus o facto de viver noutra civilização, onde o nascer mulher é uma alegria para os pais e para toda a família, onde a mulher tem acesso à educação tal como os homens. Dá também para vislumbrar uma pequena parte do imenso sofrimento de todos, homens e mulheres, velhos e crianças, quando um poder despótico, sem qualquer respeito pelos valores da fé, que dizem professar, se apodera de um povo. Viver assim, em receio constante de fazer seja o que for, até brincar, é aflitivo. Também me impressionou a forma como fazem o recrutamento dos jovens e dos homens adultos para os enviarem em missões suicidas. Os mandantes não vão, obrigam os outros a ir e, para isso, parece que lhes fazem uma lavagem ao cérebro. As intrigas políticas que, paralelamente vão sendo tecidas, de forma a parecer que combatem os talibãs mas, ao mesmo tempo, a darem-lhes guarida, é também preocupante. Foi este misto de horror, de preocupação e ao mesmo tempo de admiração por quem, mesmo sabendo os perigos que corre, como Malala e o seu pai, tenta lutar contra a obscuridade e a ignorância, a prepotência e o medo, ajudando os que lhe batem à porta, ou os que recolhem do lixo os desperdícios, para com eles sobreviver, que me fez gostar do livro. Que Deus proteja toda a humanidade das tiranias, sejam elas de esquerda, ou de direita, civis, ou religiosas.

Mais em pormenor

Detenho-me nas páginas a partir da pág. 260.
Foi verdadeiramente absorvente esta parte do livro. A forma como Malala nos conta tudo o que passou, prendeu-me até ao fim do livro. Impressionante!

Pág.265 – “Rezem pela Malala – pediu-lhes o meu pai.”
 Ao longo de todo o livro, mas mais nesta parte, sinto que se toca a alma do viver de pessoas que professam a fé muçulmana. Não se trata de radicalismos, mas de vida de fé, em Deus.

Pág.267 – “Precipitou-se para casa e deu a notícia à minha avó, que vivia então connosco. Implorou-lhe que começasse a rezar de imediato. Acreditamos que Alá ouve com mais atenção os que já têm cabelos brancos.(…) A minha mãe ficou deveras surpreendida ao ver toda aquela gente. Sentou-se no tapete das orações e recitou do Alcorão. Disse às outras mulheres: - Não chorem; rezem!”
Esta é a expressão de alguém que verdadeiramente confia em Deus e recorre, ao que de mais profundo tem o coração humano, a oração, para fazer chegar até Deus a dor que lhe vai na alma.

Pág.268 – “Enquanto observavam o helicóptero, voando por cima delas, a minha mãe tirou o lenço da cabeça – um gesto extremamente raro numa mulher pasto – ergueu-o ao alto, segurando-o com ambas as mãos, como se de uma oferenda se tratasse. – Meu Deus, confio-a ao Vosso cuidado – disse ela aos céus. Não aceitamos a proteção da polícia; Vós sois o nosso protetor. Ela estava sob a Vossa proteção e Vós tendes de no-la devolver.”
Este é um verdadeiro ato de fé em Deus, por parte desta mãe.

Pág.281 – “A minha mãe continuava a rezar – mal tinha dormido. Faiz Mohammad dissera-lhe que devia recitar a Sura da Haj, o capítulo do Alcorão sobre a peregrinação, e ela recitou, vezes sem conta, aqueles doze versículos (58-70) sobre a omnipotência de Deus. A minha mãe disse ao meu pai que sentia que eu viveria, mas o meu pai não conseguia vislumbrar como. Quando o coronel Junaid veio inteirar-se do meu estado, o meu pai voltou a perguntar-lhe: - Ela vai sobreviver? – Acredita em Deus? – perguntou-lhe o coronel? – Sim, acredito – respondeu o meu pai. O coronel Junaid apresentava ser um homem de grande profundidade espiritual. O conselho dele era que apelássemos a Deus, que ele responderia às nossas preces.”
Deus nunca fica indiferente a um coração de mãe que assim confia n’Ele. É toda uma profundidade de fé que sustenta o viver desta família e que, num momento trágico, como o do atentado a Malala, faz sobressair a confiança, a fé em Deus.
O contraste que se verifica entre a vivência dos povo pastó e a nossa cultura ocidental atual, que já teve uma verdadeira profundidade espiritual radicada em Deus, durante tantos séculos, mas que agora passa por uma fase, em que a relação com Deus não é vivida numa comunhão profunda, nem é essencial para dar sentido à vida, faz-me desejar que recuperemos a saúde espiritual, que repassa por estas últimas páginas do livro da Malala. A Europa precisa urgentemente de recuperar a sua matriz judaico-cristã. Esta é a sua identidade. No meu entender, se o não fizer, arrisca-se a desparecer, enquanto civilização!

Pág.324 –(…) “No espaço de um segundo, fez o meu cérebro inchar, roubou a minha audição e cortou o meu nervo facial. E, depois desse segundo, houve milhões de pessoas a rezar pela minha vida e médicos talentosos que me devolveram o meu corpo. Eu era uma rapariga boa. No meu coração albergava apenas o desejo de ajudar as pessoas. E isso não tinha nada a ver com prémios, ou dinheiro. Sempre pedi a Deus: -Quero ajudar as pessoas, por favor ajudai-me a fazê-lo.”
Esta é  Malala que me fez olhar para o outro lado dos muçulmanos, muito para além dos radicais que profanam o nome de Deus, semeiam o terror por onde passam, tiranizando e tentando assassinar todos os que se opõem às suas ideias, impondo a ignorância e a prepotência sem limites. 

Pág.304 – “A minha mãe, por exemplo, diria que uma pessoa assim não pode ser muçulmana.”
Gostei mesmo muito de perceber, que num mundo que despreza a mulher, esta, quando lhe é dada oportunidade, demonstra uma força sem limites, como foi o caso  de Malala  e de sua mãe. 

Pág.305 –“Quando o meu pai voltou para junto de minha mãe disse-lhe: -És uma grande mulher. Todo este tempo pensei que eu e Malala éramos os ativistas, mas tu sabes mesmo como fazer uma ação de protesto!

Reflexão sobre o livro do mês de novembro 
“Onde diabo está Deus?” de Richard Leonard

  
Em termos gerais:

O livro deste mês levou-me a repensar algumas das ideias que tinha associadas a Deus. Ajudou-me a clarificar e a responder a várias das interrogações que coloco a/e sobre Deus, no que toca ao sofrimento. Ainda fiquei com muitas dificuldades em perceber a relação entre Deus e o sofrimento dos homens, mas há frases, neste livro, que me ajudaram muito.
Gostei da forma como o padre Richard partilhou a história de vida da sua irmã, mas o que mais apreciei foi o facto de,ao longo de todo o livro, ele ter exposto tantas das expressões, que, frequentemente, usamos quando passamos por uma situação de dor e sofrimento profunda e, a todas, ter rebatido a ideia de lhes associarmos um Deus que castiga o homem enviando-lhe situações de sofrimento como castigo, ou como forma de redenção.
Finalmente, o livro, para mim, foi muito claro no que Deus não é, quando se relaciona com o sofrimento,mas insuficiente na explicação da forma como Deus intervém na nossa vida, em todos os momentos, mas especialmente em situações como a da irmã do padre Richard.

Passagens que mais me marcaram:

Pág.27 ”Na verdade, nós acreditamos que ver Jesus atuar é ver Deus atuar, porque “Eu não posso fazer nada sozinho” e “o Pai e Eu somos um”. Portanto, se Jesus não nos queria magoar, Deus também não.”(...) Quando ouvimos pessoas a dizer “não julgues”, podemos presumir que estão na verdade a dizer “não condenes”, mas há uma diferença enorme entre julgar e condenar. Julgar é avaliar uma situação. Condenar é votar ao Inferno.”

Pág.50 “Quando rezamos, estamos a pedir ao Deus santo, imutável e cheio de amor que nos mude a nós e que, assim, também mude o mundo.”

Pág.51”Deus consome-se amando-nos e salvando-nos a cada momento do dia.Ele não pode fazer mais nada nesse sentido. Cabe-nos responder a esse dom que não ganhámos nem merecemos, e é isso que faz a oração.”
(...)
“Ora, talvez pareça estranho que eu afirme que Deus não pode mudar, ou não muda a natureza, mas pode mudar o coração humano. Não acredito, porém, que Deus possa mudar um coração que não queira mudar. A graça edifica sobre a natureza; não a oblitera. Somos seduzidos a mudar pela graça de Deus, não forçados a fazê-lo.”

Pág.55 “Até mesmo no episódio da anunciação, Maria não teve de dizer “sim”ao anjo. Apesar da graça da imaculada conceição, se Maria não tivesse o poder e a liberdade para dizer não, o seu sim não teria significado. Ela teria sido vítima de Deus, não o modelo que é para nós, como colaboradora de Deus, mesmo quando esse sim lhe viria a custar tudo. O nosso sim à graça produz, por vezes, o mesmo efeito.”

 Pág.56 “Não existe um projeto celeste propriamente dito para a minha vida. Através da benção do tempo e do lugar, dos dons da natureza e da graça, eu trabalho com Deus para realizar da melhor forma possível, mesmo que isso envolva ter de fazer coisas difíceis, exigentes, que requerem sacrifício. Essa resposta não provém do medo, nem da compulsão, mas do amor e do desejo.”

Pág.62 “O intuito do espírito mau é afastar-nos das relações; o intuito do espírito bom é inserir-nos mais profundamente nas nossas relações. Aquilo a que prestamos atenção confere cor a todas as outras áreas da nossa vida. Se nos focarmos no negativismo, o negativismo espalhar-se-á; se nos focarmos na graça, a graça espalha-se-á.”

Pág.63 “Não há nada que nós tenhamos feito, estejamos a fazer, ou venhamos a fazer que impeça Deus de nos amar. Não há nada que Deus não possa perdoar e curar, mas temos de começar por tomar consciência daquilo que somos e daquilo que fizemos. Então será possível fazer alguma coisa, ou tudo.

Pág.64 “Nada é mais prático do que encontrar Deus, ou seja apaixonar-se por Ele de uma forma absoluta e definitiva.”...”Apaixona-te, mantém-te apaixonado, e isso decidirá tudo.”

Pág.76 “A Cruz de Cristo não é um acessório da moda...Olhando para ela devíamos continuar sem fôlego, não só porque porque nos mostra até onde Jesus estava disposto a ir para estabelecer o seu reino de justiça e amor neste mundo, mas também porque exprime o preço a pagar por todos nós que seguimos o seu Caminho, proclamamos a sua Verdade e vivemos a sua Vida.”

Pág.77 “A minha preocupação não é que Jesus tenha sofrido e morrido, e que nós também, mas que tipo de imagem de Deus emerge do facto de nós compreendermos a nossa salvação em termos de transação comercial  de pagar um resgate, ou de um Deus irado que fica muito satisfeito quando nós lhe “oferecemos” o nosso sofrimento doença e dor, que Ele próprio nos enviou.”

Pág.79 “Deus criou um mundo que não é nada perfeito, caso contrário seria o Céu, e onde o sofrimento, a doença e a dor são realidades. Algumas somos nós que as criamos para nós próprios, mas depois acusamos Deus.”

Pág.85 “Eu preciso de me manter agarrado ao facto de que Deus está sempre presente para nós, como companheiro nas vicissitudes da vida e da morte. É esse o sentido da doutrina cristã da encarnação. Deus queria tanto ajudar-nos, que, para podermos ser amados e salvos do mal e de nós próprios, fez-se um connosco na nossa própria carne.”

Pág.97 “Já agora, Deus não precisa de anjos no Céu. Em teologia, dizemos que Deus é suficiente. Deus não precisa de nada, e por isso não tem necessidade de nos tirar os nossos filhos, angelicais, ou não. O que é excitante na fé cristã é o facto de acreditarmos que Deus nos quer. Foi por isso que a humanidade foi criada.”

Pág.98 “Por conseguinte, quando o nosso corpo morre, a nossa alma,ou espírito dá início à sua viagem final para casa.”

Pág.100 “A memória, como elemento constitutivo da minha alma, significa que, quando eu me encontrar com Deus face a face, me lembrarei de como sou e de como vivi, e que Deus se lembrará de mim. Também é reconfortante para nós pensar que nos poderemos reunir com aqueles que amamos e que morreram antes de nós, porque nos lembramos uns dos outros.”

Pág.107 “No entanto, Cristo-como-amigo não é instrusivo. Ele espera pacientemente um convite para entrar nas nossas vidas a qualquer nível que queiramos. Jesus encontra-se connosco onde nós estamos, abraça-nos e aperta-nos contra si quando a realidade se torna dura, ajudando-nos a encontrar o caminho a seguir, mesmo naquele último dia em que encontrarmos o caminho para casa.”

Breve reflexão sobre o livro de dezembro, 
“A mãe de Calcutá” Madre Teresa, de Roberto Allegri


Em termos gerais

Gostei muito do livro, quer pela forma como está escrito, quer pela seleção, que o autor fez, dos episódios  que apresenta no livro. Allegri vai-nos revelando a formação da personalidade da jovem Agnes, bem como o percurso espiritual e humano que vai percorrendo, desde criança até à implantação das Irmãs da Caridade. Ao longo do livro, consegue-se perceber claramente como foram decisivas, tanto a influência do exemplo familiar, como a importância do testemunho missionário, no crescimento individual e coletivo de Agnes. Quanto às opções tomadas por Agnes, enquanto criança e jovem, ou como irmã Teresa, há uma entrega total a Deus, com um denominador comum que impressiona, o amor pelos mais pobres. É o amor a Deus e aos mais pobres dos pobres que ressalta como o que move Madre Teresa em todas as “batalhas” que trava. Outra das coisas que sobressai em Madre Teresa é o facto de ela ver Jesus em cada uma das pessoas que cuidava, de conseguir olhar a pessoa para além do seu aspeto físico e tocar  Jesus  que o habitava. Era toda amor para com eles.
Também realço o prefácio escrito por um cantor de quem gostei muito, noutros tempos, Al Bano Carrisi, pela proximidade afetiva, com todas pessoas, que nos revela de Madre Teresa.

Passagens que mais me marcaram:

Pág.8 –“ Estando perto da Madre, podia observá-las bem. Tinha o Sol nas costas e parecia ser ela a irradiar luz. Tinha a sensação de que não era uma pessoa sozinha, mas uma multidão inteira. Emanava dela a energia de uma multidão. Recordo que era pequena, minúscula, encurvada. Trazia vestido o seu habitual hábito branco bordado de azul, de feitio indiano, é uma camisola de lã. Tinha o terço do Rosário à cintura. E calçava umas simples sandálias gastas e deformadas. O seu rosto era incrível: escuro, fincado de rugas. Fazia-me vir à mente a cortiça das oliveiras, ou então, a terra de Salento, gritada pelo Sol. Apesar de ser idosa – já tinha 76anos – irradiava uma tal força, que parecia mais jovem do que todos nós. Os seus olhos eram profundos e dulcíssimos. Aproximou-se de mim e abraçou-me com ternura. Nunca mais esqueci aquele abraço.”

Pág42 – “cada um de nós tem um papel preciso. O problema é que nem sempre conseguimos entender qual é. Deus é simples, fala de modo claro. É o coração dos homens que, muitas vezes, é complicado e não compreende. Então, devemos pedir a Deus que repita.  “E como se faz?”, pergunta Agnes. “Rezando. Fala com Deus, diz-lhe que grite, pois não O estás a ouvir bem. Se te sentires feliz com a ideia de que Ele te está a chamar para servir o próximo, bom, essa será a prova da tua vocação.”

Pág.46 e 47 – “Dia após dia, ano após ano, Agnes cresce, torna-se mulher, em harmonia com o seu mundo. É desembaraçada, escreve poesia, toca piano, é convidada para as festas, cortejado pelos rapazes da sua idade. Ajuda a mãe em casa, continua a frequentar os bairros pobres, a gente quer-lhe bem, invoca sobre ela as bênçãos do Céu. Ela sorri, gentil com todos, mas, no íntimo, está destroçada. Por mais água que possa lançar ao fogo, as chamas da Índia continuam a mordê-la. Nas suas cartas , o padre Anthony escreveu sobre crianças indianas doentes e desnutridas, que podem ser erguidas com uma mão, e no coração se Agnes abriram-se abismos. Desde menina ela já era uma mãe. Mãe dos pobres de quem cuidava, a quem levava as prendas de Natal e o bom humor, com os seus modos gentis. O pensamento das crianças indianas inchadas de fome, a disputar a comida com os cães, pelas ruas, fá-la tremer.”

Pág.60 –“ Naquele momento , diante dos olhos de Agnes desfilou a sua vida em Skopje. Recordou as visitas aos pobres, juntamente com a mãe. Tem a certeza de que aqueles dias foram um treino, um constituir a base sólida para algo maior e mais comprometido. Sente-se assombrada, dando-se conta de que tudo se desenrolou segundo uma ordem precisa de tempos e predisposições de ânimo: a escola da caridade da mãe Drane; a consciência da dor humana experimentada com a morte do pai; os dias passados a trabalhar para sobreviver, experimentando, em primeira mão, as privações; o descobrir a dedicação dos missionários e o nascer do desejo de ser como eles; as cartas do padre Anthony, que deram rosto ao seu doar-se. Finalmente a decisão de se tornar freira. Todos são degraus de uma escada que leva ao alto, rumo à luz que Agnes sente ter dentro.”

Pág.76 – “Talvez não tenha compreendido bem o que é que Jesus quer de mim, diz, olhando para o revérbero dos incêndios que se extinguem ao longe. Talvez Ele queira alguma outra coisa de mim. Peço-te, Senhor, fala mais forte. Grita-me a tua vontade, de forma que eu a possa cumprir.”

Pág. 89 – “Quero  irmãs indianas, que sejam missionárias da caridade, que sejam o meu fogo de amor entre os pobres, entre aqueles que morrem na rua. Essas irmãs trarão os pobres a mim, e oferecerão as suas vidas pelas almas.”

Pág.95 – “Nada foi inútil. Tudo a fez amadurecer. Como uma semente que conheceu a chuva e o granizo, o vento e a canícula de verão, os insetos e as noites de gelo. Mas que, no final, se tornou uma espiga de reflexos luzentes, alta e forte.”

Pág.103 – “Mas estes são tempos difíceis. A Índia é um país difícil. E aquilo que pedes é desconcertante. No meu entender, tens de dar tempo, para refletires melhor, para levares ainda mais luz à tua alma. Se aquilo que propões é verdadeiramente um desígnio de Deus, então verás que  se realizará. Mas, de momento, a minha resposta é não!”

Pág.109 – “Jesus, aqui estou. Eis-me à tua disposição. Procuraste-me, e eu vim. Agora, não tenho mais nada: como aqueles pobres nas ruas, de quem tanto gostas. E estou completamente nas tuas mãos. Não esqueças a tua promessa, disseste que estarias sempre a meu lado. Porque, agora, não sei por onde começar.”

Pág.112 – “Teresa está onde, desde sempre, quis estar. É uma mãe de pele clara, de hábito branco, empoeirado, de mangas longas que enrola à volta de braços franzinos, a fim de ter as mãos livres para trabalhar. Como a mais extremosa das mães, toca, levanta, limpa, lava, acaricia, acompanha, pega na mão de quem não tem nada no mundo.”

Breve reflexão sobre o livro do mês de janeiro de 2017 “Óscar Romero” – O amor deve triunfar – de Kevin Clarke


Em termos gerais:
Gostei do livro, porque revela a transformação de um ser humano, que sendo sempre fiel ao seu amor a Deus e à Igreja, a partir do momento em que é assassinado o seu amigo Rutílio Grande, deixa de ser conivente com o poder instituído, com os proprietários, as elites militares e judiciais e passa a ser pastor no meio dos pobres, dos perseguidos e dos injustiçados.
Sempre entendi que a teologia da libertação era mais política do que teológica, pelo que percebi a atitude que o arcebispo, Óscar Romero, tinha contra os seus defensores. Continuo, mesmo depois de ler o livro, a não partilhar muitas das teorias defendidas por este movimento, mas quando as situações se agudizam como aconteceu em El Salvador, é compreensível que tenha sido um dos recursos a utilizar. O princípio geral, para mim, é válido: a defesa dos pobres e dos injustiçados, mas as formas de o fazer já são discutíveis à luz da fé católica. Mas deixo essa discussão para os especialistas.
Não conhecia o sofrimento do povo salvadorenho. É impressionante a forma como uma minoria consegue tornar-se dona de tudo e de todos, pela força, aterrorizando todo um povo, que é tratado como escravo  na sua própria terra.
Atendendo a tudo que escrevi anteriormente, dividi o livro em duas partes: uma antes do assassinato do padre  Rutílio Grande e a outra depois da sua morte. Até à morte do padre Rutílio, o arcebispo Óscar Romero vai pactuando, umas vezes mais passivamente, outras ativamente com o poder político, com os grandes proprietários, com os militares, isto é, com as elites de El Salvador. É discutível, o que vou dizer, mas até parece que, se assim não fosse, ele não teria chegado a arcebispo. Mas o mais marcante desta parte da vida do arcebispo Óscar é o seu profundo amor a Deus e o seu apoio na oração. Nunca deixou de ser fiel ao que era essencial.
Na segunda parte D.Óscar sofreu uma imensa transformação. O seu coração deixou-se envolver pelo profundo sofrimento que os seu olhos testemunharam e passou para o lado dos pobres. Era impossível ficar indiferente perante tanta dor e injustiça. Assim, vemos renascer um lutador pela justiça, pela reposição da dignidade humana, pela defesa dos mais elementares direitos de qualquer pessoa, entre os quais o direito à vida e em condições de segurança. O que retive, como mais marcante nesta fase, é a sua incansável atenção e cuidado para com todos. Tinha sempre tempo (fosse qual fosse a hora do dia, ou da noite) para atender quem solicitava explicitamente o seu apoio, ou quando intuía que dele necessitava. Também nesta fase o amor a Deus e à Igreja, são evidentes, só que agora há a acrescentar ainda o amor aos mais pobres e aos injustiçados. O amor aos pobres, nesta fase, é mesmo o traço dominante.

Mais em pormenor:

Pág.94 - “Grande fora, durante vários anos, um espinho na carne dos agricultores locais. Em 1972, trouxera o conceito de comunidades de base para Aguilares. A experiência foi eletrizante para aqueles camponeses indígenas e mestiços. Descrevê-los como pobres teria sido pouco. Se tinham alguma terra, era o lote mais rochoso, ou mais elevado, ou em estado mais adiantado de erosão, em plena encosta da montanha. Grande e os seus colegas sacerdotes reabilitaram essas pessoas, através de gestos tão simples como pedir a sua opinião acerca das sua próprias vidas; trouxeram-lhes Bíblias, ensinaram-nas a ler e perguntaram-lhes se acreditavam de facto que era vontade divina, do seu amoroso Pai do Céu, que eles chafurdassem na lama da sua miséria e desesperança total. Seria assim que Deus queria que os seus filhos vivessem?
Quando aqueles camponeses aceitaram o óbvio, que não era vontade de Deus que eles sofressem tanto, que eles tinham uma dignidade inata, como povo de Deus, começaram a compreender que lhes cabia, a eles, fazer alguma coisa para mudar a situação, para ajudar Deus a construir o seu Reino de paz e justiça sobre a terra. Formaram comités agrícolas e fizeram manifestações a favor da reforma agrária e de um melhor tratamento por parte dos senhores das colheitas.
Foi esta ameaça, foi esta «violência» que desencadeou a ira feroz da elite detentora de terras, através da Guarda Nacional, que era o seu instrumento. Era este o «comunismo», que os jesuítas e os sacerdotes estrangeiros do Terceiro Mundo disseminavam entre os bons camponeses de El Salvador.”

Pág.95 – “Naquela noite, enquanto pensava no povo de Aguilares, nos corpos inertes de Grande , de um velhote e de um rapaz camponês, crucificados com espingardas de elevada potência, Romero talvez tenha compreendido, de uma forma visceral, o novo ensinamento do Concílio Vaticano II e de Medellín com que, até então, se debatera: o que significav.a fazer uma opção preferencial pelos pobres e unir-se ao povo de Deus na sua dor e sofrimento, como Rutílio fizera, mas até à expressão última de identidade e rendição, oferecendo a sua vida terrena. «Naquela noite, a vontade de Deus – recordou Sobrino – deve ter parecido muito diferente ao arcebispo Romero, na presença dqueles três corpos e de centenas de camponeses que o fitavam, interrogando-se sobre o que ele iria fazer depois do sucedido».”

Pág.125 – “Romero começava a ver os pobres como os principais instrutores da fé contemporânea, tanto pelo testemunho das condições da sociedade refletidas na luta diária, como pela sabedoria das Escrituras que partilhavam pessoalmente. E, através dessa sabedoria, começava a entender a necessidade de a Igreja se empenhar na sua época, não se ausentar dos bastidores da história, refugiando-se em considerações espirituais piedosamente sussurradas. Obviamente, diria ele, a Igreja não tem outra alternativa senão dar a cara por aqueles que estão a ser oprimidos e que precisam de ser libertados dos seus opressores.  … E isso significava partilhar os riscos que corriam os indefesos”

Pág.129 – “É nesta encruzilhada, frequentemente referida pelo arcebispo, que a sua visão de libertação e a de alguns adeptos da emergente teologia da libertação talvez sigam caminhos diferentes. Romero não estava interessado na promoção de um choque de classes e de estratos sociais, na reordenação violenta da má distribuição de riquezas,  ou de crimes relacionados com a propriedade hereditária. Estava preocupado em salvar os corpos e as almas dos seus irmãos das comunidades mais pobres e mais vulneráveis, mas também das classes dirigentes, intocadas pela violência da pobreza e voluntariamente cegas, quanto à sua própria cumplicidade em relação a ela. As sua denúncias e súplicas não tinham por objetivo dividir e castigar, mas restaurar a fé – e a comunidade dos fiéis -, oferecendo esperança aos oprimidos e chamando e acolhendo os cristãos extraviados na comunidade do povo de Deus.”

Breve reflexão sobre o livro do mês de fevereiro de 2017 “Viver Deus na alegria” – Claire de Castelbajac 

Em termos gerais:  
Adorei o livro, ou melhor, adorei a história de vida que o livro nos traz. Não foi tanto a forma como está escrito, nem tão pouco a seleção que foi feita do que devia constar nesta edição, mas gostei imenso de ir descobrindo esta alma de eleição, através das cartas, que nos vão revelando a profundidade de entrega desta jovem, ao longo do pouco tempo que viveu neste mundo.
Realço, tal como o fez o Pe. Joseph de Sainte Marie, na “Apresentação” do livro, a importância, não só dos diversos dons com que Claire foi agraciada por Deus, mas, sobretudo, da educação cristã, desde bebé, que recebeu no seio da sua família, com especial relevância para a intervenção dos seus pais.
É também de assinalar que não se tratou de uma vida fácil, pois, para além do seu próprio sofrimento, com internamento hospitalar por várias vezes, acompanhou o seu pai e a sua mãe quando estes, por sua vez, foram hospitalizados.
Outro marco importante do seu crescimento, no amor e entrega  a Deus, é a fase em que foi estudar para Roma em que, passa por várias experiências, entre as quais uma crise espiritual, da qual acaba por sair muito mais “madura”.
Também é de referir a importância da sua peregrinação à Terra Santa, como o culminar de uma caminhada em direção à descoberta do verdadeiro Amor, terminando ela por escrever, na página 149: “…uma peregrinação extenuante e transtornante, no sentido próprio do termo. Em três semanas, a minha vida mudou completamente de ótica: além da minha familiaridade com a Santíssima Virgem, descubro o Amor de Deus, imenso, surpreendente e tão simples.”
A seguir acompanhamo-la  até Assis, no restauro da capela de S.Martinho, de Simone Martini e dá para perceber quão sensível e apaixonada pela arte, pelo “belo”(…) “maravilhosos frescos, aliás muito, muito belos, os mais belos das duas basílicas e, sobretudo, cheios de vida espiritual que não pode deixar de nos tocar. Incrível como, seis séculos e meio depois, este tipo pode fazer passar para nós a sua alma, enquanto o restauramos.”
Por fim, o que ressalta como denominador comum, que perpassa por toda a vida de Claire, é a alegria, que vive e espalha à sua volta, na qual envolve todos os que com ela convivem. É uma alegria missionária, através da qual procura cativar todos para Deus.

Mais em pormenor:

Pág. 58 – “… a vida é bela, o tempo também, e também o desenho a aguarela que fiz: a minha primeira aguarela!
       - sinto-me livre, ainda que no convento, e cheia de dons em potência, que procuro desenvolver convosco (com a vossa ajuda).
       - um trabalhador canta e é feliz por viver. Eu também.
       - um raio de luz brinca por cima dos tijolos da lareira.
       É curioso, quantos motivos de felicidade se podem encontrar se refletirmos! A vida não é senão felicidade! São os homens que fazem a infelicidade. Se toda a gente o pudesse compreender! (setembro de 1969 – 16 anos).

Pág. 59 – “ (…) Dizes estar triste. Ó! Porquê? Porquê, se a vida, globalmente, é tão bela e, nas pequenas coisas, a vida pode ser tão bela!(…) Nunca desanimes! É a pior das asneiras. Assim que começares a fraquejar, chama depressa a Virgem Santíssima e o teu Anjo da Guarda, e está segura que te ajudarão. São os melhores amigos, e tão poderosos! Depois, agradece-lhes. O remédio é excelente. Foi a minha Mãe que me ensinou isto na infância …”

Pág.75/76 – “(…) não tendo podido ir à Missa da manhã, por me ter levantado tarde, venho agora de lá: é uma menos um quarto. Estou cheia de Deus, não podes fazer ideia até que ponto; ao voltar à motorizada, rezei intensamente para que participes comigo desta plenitude. Não te é possível materialmente? Mas não achas extraordinário poder fazê-lo a mil quilómetros de distância? O que me faz pensar em Van Gogh, que se maravilhava de «tudo» sob o sol: seja um, mil ou dez milhões, temos sempre a mesma possibilidade de calor ao sol, e um homem sozinho não teria mais calor do que a multidão. O sol é para todos e para cada um e reparte-se sem se decompor.”

Pág.169 – “Esta apoteose de alegria, esta vitalidade, manifesta-as a todo o instante. Irradia felicidade. Repete incansavelmente: «Sou feliz! Amo tanto a vida! Mas percebei como eu sou feliz! Como Deus é bom!». Esta felicidade profunda não se desmente com o passar dos dias. É verdade que se conhecia uma Claire de um natural alegre, que ria às gargalhadas, levando as coisas com humor e sã filosofia, feliz de viver e proclamando-o… Mas esta Claire que regressou, esta Claire tinha mudado: era outra. Estava literalmente transfigurada. E esta alegria não enganava. Era bem a alegria dos filhos de Deus, que tudo entregam nas suas mãos, que Lhe consagram uma confiança absoluta, que já nada temem, de tanto amados que se sentem e de tanto que amam. Provada e purificada, a sua fé triunfava.”

Breve reflexão sobre o livro do mês de março de 2017 “Quebrar as cadeias” – o combate pela dignidade das mulheres – de Irmã Eugenia Bonetti com Anna Pozzi

Em termos gerais:  

Quem vive, ou já viveu, numa cidade grande deu-se conta da existência aí de ruas, ou locais, conhecidos pela prática da prostituição, mas sinceramente, não tinha a noção da dimensão avassaladora deste fenómeno. É impressionante o número de mulheres vítimas deste “comércio ignóbil”!
Depois de ler o livro deste mês, fiquei com um sentimento de tristeza profunda, por um lado, pela situação trágica em que vivem milhões de mulheres (crianças, jovens e adultas), pelo mundo fora, por outro lado, pelo “adormecimento” consciente, ou inconsciente, da maioria das autoridades, dos diferentes países, face a esta tragédia humana, que se arrasta há tantos anos, sem se vislumbrar uma vontade real de lhe pôr um fim.
Apesar de tudo, foi muito bom verificar que há, por parte da Igreja, uma ajuda real e em rede, em certas cidades desta bendita Europa, na ajuda humana, médica e social a muitas das mulheres que vivem na prostituição e àquelas que manifestam vontade de sair deste círculo vicioso, em que foram obrigadas a  cair, pelas razões mais variadas.

Mais em pormenor:

Pág. 50 – “Os clientes – juntamente com os traficantes e as vítimas – são figuras-chave no mundo da prostituição: se há muitas prostitutas nas nossas ruas, obrigadas a vender o próprio corpo, é porque existe uma grande procura (e a mulher pobre, indefesa e sem documentos, tornou-se a resposta a esta procura). São eles que mantêm e promovem o mercado; um mercado surpreendentemente vasto: em Itália, o tráfico ilícito de mulheres e menores para fins de prostituição satisfaz a procura de 9 a 10 milhões de clientes por mês.”  (dados de 2010)
Comento eu: se pensarmos bem, é o equivalente, em número, à totalidade da população portuguesa!!! Dá que pensar…

Pág.53 – “Algumas investigações documentam que o cliente é um homem medianamente abastado, de idade variável entre os 18 e os 70 anos (e mais), com uma educação média, muitas vezes com um bom trabalho, e que até se confessa cristão. Além disso 70% têm mulher e filhos, ou companheira.”

Pág.55 – Desde os alvores da história, a ordem da criação tem sido quebrada, porque os homens fizeram mau uso da sua liberdade e fizeram escolhas erradas. O poder e o bem-estar contribuíram para a difusão da corrupção e da injustiça. Desde então, os seres humanos entraram em conflito consigo mesmos, com os outros e até com a natureza; fizeram a experiência da luta entre o bem e o mal, entre a vida e a morte, entre o amor e o ódio.  …”Por isso, apareceram os profetas: para sugerirem à humanidade novas visões e despertar a esperança no futuro.” … “o Grande Jubileu de 2000,…” … “incitou-nos a firmar uma nova «aliança com os pobres». E esta é a visão profética de que hoje temos necessidade. “Várias congregações já fizeram a sua com determinação e coragem.”

Pág.100 – Deveria ser dada uma atenção especial ao mundo da «procura». Os nossos homens e os nossos rapazes deviam tomar consciência das suas responsabilidades, quando procuram sexo pago com mulheres traficadas (muitas delas menores). Com a sua escolha apoiam e alimentam esse enorme mercado e tornam-se cúmplices de uma violação do direitos humanos.

Breve reflexão sobre o livro do mês de abril de 2017 “Aprender a rezar para aprender a amar” de Jacques Philippe


Em termos gerais:  

O livro do mês de abril é completamente diferente de todos os que nos foram propostos, até ao momento, no clube de leitura cristã. É um livro que desperta para a necessidade de rezar e fazê-lo sempre, com ou sem disposição. Apresenta também muitos modos diferentes de o fazer. Alerta, também, para o facto de não haver receitas e cada pessoa ter de procurar, de forma dinâmica ( nunca está terminado), o seu jeito próprio de orar.
Concluindo, rezar é uma necessidade de todo o ser humano, mas há tantas maneiras diferentes de o fazer, que, às vezes, torna-se difícil encontrar o jeito mais adequado (a si próprio) para entrar em oração.
Este livro apresenta primeiro uma série de considerações acerca da oração e depois enumera diferentes formas concretas de rezar, dentro dos vários tipos de oração. Não é um manual de oração, mas tem conselhos práticos para aquele(a) que quer rezar e não o consegue. Experimentar não custa, o pior que pode acontecer é não resultar! Com tanta variedade, alguma se há de ajustar à nossa forma de ser e estar!
Quanto a uma vida de oração, ainda é mais complicado. Entreguemo-nos a Deus e confiemos n’Ele. Afinal, diz o autor deste livro, a oração é um ato de fé, de esperança e de caridade, isto é, de encontrar, acolher e estar em Deus.

Pormenorizando:

Pág.16 – O fundamento mais sólido da vida de oração não é propriamente o que nós procuramos, a iniciativa pessoal e o nosso desejo ( que têm um preço, mas podem às vezes ser parcos), mas o apelo de Deus: «Rezai sempre!» (Lc18,1), «Ficai atentos e rezai continuamente!» (Lc 21,36), «Rezai incessantemente!» (Ef 6,18)… O motor da vida de oração é a fé, enquanto obediência confiante àquilo que Deus nos propõe.

Pág.21 – Rezar é passar gratuitamente tempo com Deus, por causa da alegria de estarmos juntos. É amar, porque gastar o nosso tempo é uma forma de dar a vida. O amor não consiste em fazer alguma coisa pelo outro, mas em estar presente para ele. A oração educa-nos a estar sempre presentes para deus, numa simples atenção amorosa.
A maravilha é que, ao aprendermos a estar presentes somente para Deus, acabamos por aprender a estar sempre presentes para os outros. Junto das pessoas que tiveram uma longa vida de oração percebe-se a qualidade de atenção, de presença, de escuta e de disponibilidade de que normalmente as pessoas ocupadas durante toda a sua vida em atividades não são capazes.

Pág.24 – Note-se bem o seguinte: quando entramos em comunhão com Deus, a oração faz-nos participantes da criatividade divina. A contemplação alimenta as nossas faculdades criadoras e a nossa inventiva, particularmente no domínio da beleza.

Pág.25 – A oração induz-nos gradualmente num verdadeiro conhecimento de Deus…A oração permite-nos passar das nossas ideias sobre Deus, a uma experiência de Deus. O que é muito diferente! No livro de Job, encontra-se esta bela expressão: « Eu conhecia-Te só por ouvir. Agora, porém, os meus olhos veem-Te» (Jb 42,5)

Pág.29 – A oração e o encontro com Deus fazem-me descobrir o amor único que Deus tem por mim. Sentir-se amado de um modo único é uma aspiração profunda de todo o homem ( e muito mais de toda a mulher!)

Pág.42 – A caridade é o fruto e o critério último de toda a vida de oração. «SE não tivesse amor, nada seria!» (1Cor 13,1).

Pág.53 – Há momentos na nossa vida de oração em que somos muito pobres. Apesar da nossa boa vontade e dos  nosso esforços, sentimo-nos áridos, frios, vazios, não entendemos nada, nem temos luz alguma… Se isto lhe acontecer, caro leitor, deverá lembrar-se do que já lhe disse: pouco importa o que sente ou não, o que compreende, ou não. Se a sensibilidade e a inteligência não o levarem a Deus, a fé levá-lo-á de certeza. Se fizer aí uma ato de fé, humilde e sincero, pode ter a certeza que a partir daí se colocou em contacto com Deus de maneira absolutamente certa. A fé, e apenas ela, estabelece o contacto real com a presença viva de Deus.

Pág.67 – A oração é uma ato da caridade de Deus. Rezar é acolher com confiança a caridade de Deus. Rezar não é, principalmente, fazer algo para Deus, mas é sobretudo receber o Seu amor, deixar-se amar por Ele.

Pág.75 – Rezar é acolher uma presença. Deus torna-se presente: na criação, na Sua Palavra transmitida através da Escritura, no mistério de Cristo, na Eucaristia, quando habita nos nossos corações, etc.

Breve reflexão sobre o livro do mês de maio 
“Memórias da Irmã Lúcia” I


Tinha lido este livro há já muitos anos, não consigo precisar quantos, mas relê-lo no centenário das Aparições e, em especial, durante o mês de Maio, em que o papa Francisco veio a Fátima canonizar Francisco e Jacinta, teve outro significado para mim. Em relação ao estilo de escrita da Irmã Lúcia, voltei a sentir que ela tem um forma simples de contar os factos, mas com pormenores muito cuidados. No entanto o que mais apreciei foi a forma como nos “prende” aos acontecimentos que vai narrando. Envolve-nos no que nos conta e leva-nos a sentir que tudo o que passou na Cova da Iria é mesmo real.
No que diz respeito ao que nos conta, houve alguns aspetos, entre outros, que me impressionaram mais e que suscitam as seguintes considerações:
- Os pastorinhas eram crianças perfeitamente normais, enquadradas nos usos e costumes do seu tempo e da sua região – Gostavam de brincar, de dançar, de tocar, abreviavam a forma de rezar o terço para terem mais tempo para brincar.
- As crianças foram criadas num ambiente familiar profundamente cristão.
- As famílias da região viviam com dificuldades económicas, mas mantinham como valores fundamentais na educação, a partilha, a entreajuda, a solidariedade.
- As autoridades políticas, em geral, eram profundamente anticlericais.
- A Europa está mergulhada na primeira grande guerra e Portugal, a partir do momento em que também entra, revela todas as fragilidades do seu sistema económico-financeiro, desencadeando o desmantelamento do tecido produtivo, o acentuar de clivagens sociais e a escassez de bens essenciais. A acrescentar a tudo isto Portugal  tem que enviar homens para o teatro das operações.
- São as pessoas, o povo de Deus, que impõe Fátima à Igreja.
Após as aparições os pastorinhas vão mudando completamente, parece que crescem imenso interiormente, principalmente a Jacinta e o Francisco. Não só aprendem a rezar de forma diferente, como vão crescendo na comunhão com Deus e Nossa Senhora, o Francisco de uma forma mais íntima, mais individual, a Jacinta numa dimensão  mais ecuménica, alargando a sua oração aos outros, sobretudo aos pecadores. Como que se completam os dois na sua oração, se o Francisco é mais contemplativo, a Jacinta é mais missionária.
Concluo, com o que  mais me impressionou no livro, que foi a profundidade da adesão a Deus num coração de criança. Perante o testemunho que a Irmã Lúcia apresenta, da vida dos seus primos, vamo-nos apercebendo do quanto eles vão crescendo na sua intimidade com Deus e na entrega das suas vidas pela salvação dos pecadores.


São Francisco e Santa Jacinta rogai por nós!

Breve reflexão sobre o livro do mês de junho 
“Memórias da Ir.Lúcia" II


Ao ler o livro deste mês, tomo II das “Memórias da Ir.Lúcia”, senti que a forma de cativar e prender o leitor é muito semelhante à do tomo I, mas o encadear e a organização da narrativa, o recurso frequente a citações quer bíblicas, quer dos documentos da Igreja, revelam uma Ir.Lúcia diferente, mais cuidada no estilo da escrita, na organização e construção das ideias do texto, na explicação dos acontecimentos, ligando-os a citações bíblicas, ou de documentos da Igreja.
Neste tomo II, não só ficamos a conhecer, muito melhor, a família da Irmã Lúcia, mas também muitas das situações que a pastorinha Lúcia viveu, após a morte dos seus primos Francisco e Jacinta. Há factos e pormenores, que desconhecia totalmente, mas que me ajudaram a perceber melhor uma parte do percurso de Lúcia, após as aparições.
De tudo o que li, fiquei com a sensação de que a Igreja procurou resguardar a pastorinha Lúcia da curiosidade e da apropriação dos populares, que acorriam à Cova da Iria e, simultaneamente, foi dando tempo a que a veracidade das Aparições fosse testada.
Não sei explicar bem porquê, mas deste livro, que gostei de ler, retenho a figura, a estrutura moral e maternal da mãe Rosa. Que grande mulher! De tudo o que a Ir. Lúcia conta de sua mãe, impressiona-me principalmente o amor: aos pobres e necessitados; a todas as pessoas (vizinhas, ou não) que batiam à sua porta a pedir ajuda; à família; à verdade; à Igreja.  Foi com o seu exemplo que transmitiu, quer a Lúcia, quer aos irmãos, os valores morais de que a Ir. Lúcia nos dá conta neste livro. Foi esta mãe que ajudou a pequena Lúcia a crescer no amor a Deus e ao próximo e lhe deu a possibilidade de ir cimentando a sua educação em valores morais e cristãos, que lhe permitiram continuar a sua missão na terra, independentemente dos “ventos e tempestades” porque passou. 

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